Nutrição geral

Jejum intermitente… uma moda que faz (ou não!) sentido?

O jejum intermitente pode ser definido de forma simples como a existência de períodos de abstinência voluntária da ingestão de comida e bebida. Trata-se de algo que já é praticado desde a Antiguidade por diferentes populações e em diferentes contextos. No entanto, provavelmente nunca tanto como agora o jejum intermitente tem sido alvo de tanta atenção e (des)informação. As opiniões sobre o mesmo multiplicam-se, mas as dúvidas mantêm-se… Há quem diga que o jejum intermitente é benéfico, há quem diga que é prejudicial, o que aliás não é de estranhar se pensarmos que estamos a falar de alimentação que é, provavelmente, a área da nossa vida onde existe mais controvérsia…
Mas voltando ao jejum intermitente, parece-me claro que se trata de algo que não pode ser considerado sempre benéfico. No entanto, parece-me igualmente óbvio que pode ter algumas vantagens interessantes. Por um lado, sabe-se que um dos fatores que controla o nosso apetite é uma hormona chamada insulina. Esta hormona é produzida quando temos muito açúcar no sangue, e leva à inibição do apetite. Portanto, se eu estiver a fazer jejum intermitente, os meus níveis de açúcar no sangue vão baixar e eu não vou produzir a insulina. Consequentemente, posso ter mais dificuldade em controlar o apetite na refeição que irei fazer quando terminar o período de jejum. Nestes casos fica-se mais dependente da força de vontade, para resistir às tentações alimentares, pois com uma simples refeição pode deitar-se a perder tudo o que foi ganho durante o jejum… Por outro lado, estar sempre a comer de 3 em 3 horas pode ser sinónimo de comer em demasia, pois significa fazer 5-6 refeições por dia e se na maioria delas (ou em todas) eu comer um bocadinho a mais do que devia, o somatório ao final do dia pode ser simplesmente desastroso.
Confesso que quando leio e penso sobre este assunto, há alguns aspetos que me parecem particularmente importantes. Em primeiro lugar, parece-me fundamental saber respeitar os ritmos biológicos e as rotinas diárias de cada um. Ou seja, ao estar a “impor” um período de jejum que dura, pelo menos 12h, significa que vou passar metade do meu dia sem comer. Se eu durar 100 anos, significa que estive 50 anos sem comer!!! Parece-me que, para a maioria das pessoas esta alternativa pode não ser fácil de implementar e, acima de tudo, de manter. Por outro lado, será que seu eu não tiver fome para estar sempre a comer, faz sentido impor-me uma rotina que me obriga a comer de 3-3h? Comer sem vontade pode causar aversão à alimentação, e, consequentemente, descuido nas opções alimentares. Em segundo lugar, a alimentação não pode nem deve ser vista apenas como uma ferramenta para melhorar alguns parâmetros analíticos (peso, níveis de açúcar no sangue, níveis de colesterol no sangue, etc.). Claro que essa é uma função muito importante mas a alimentação é muito mais do que isso. É também convívio, socialização, bem-estar físico e psicológico e felicidade! A maior parte dos artigos publicados parecem desvalorizar estes aspetos. Dito de forma simples, de que me serve atingir o peso que pretendo se, para o conseguir, tiver que adotar um padrão alimentar que nada tem a ver comigo?
Eu sei que na nutrição as modas têm um peso muito significativo, mas acima de todas as modas deve estar o bom senso e a capacidade de análise e interpretação do que nos é dito. Informe-se, procure ajuda especializada, e de certeza que vai encontrar a melhor forma de transformar a alimentação no aliado que pretende para atingir os seus objetivos.

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