Nutrição geral

Será que estar sempre a comer/beber é a melhor opção para quem quer controlar o peso?

Se há assunto na nutrição que não reúne consenso é a periodicidade com que se deve comer. Há quem defenda que se deve comer de 2-2h, outros de 3-3h, e há mesmo quem defenda que se deve saltar refeições (o célebre jejum intermitente). Apesar de toda a controvérsia, esta é, na realidade, uma área que tem merecido muita atenção, tendo sido batizada de “crononutrição”. Independentemente de quem tem razão, se é que existe uma regra global que pode ser aplicada a todos, uma coisa parece ser mais ou menos consensual: desvios ao padrão alimentar normal tendem a afetar negativamente o metabolismo e as funções do nosso corpo. Um exemplo clássico desta situação é o trabalho por turnos, que tem consequências bem estudadas ao nível do risco de aparecimento de obesidade, de doenças cardiovasculares e de tantas outras complicações… Além das consequências diretas no funcionamento do organismo, esta desregulação horária está também relacionada com um aumento do risco de maus hábitos alimentares, o que pode, por si só, agravar ainda mais os riscos para a saúde.
Em relação ao padrão alimentar durante o dia há também algumas evidências interessantes. Por exemplo, sabe-se que de uma maneira geral as pessoas que consomem a maior parte das suas calorias durante a primeira metade do dia têm menos risco de apresentar obesidade. Além disso, sabe-se também que existe uma tendência para as pessoas que consomem a última refeição do dia mais tardiamente terem um consumo total de calorias mais elevado e, consequentemente, menor capacidade de manter um peso baixo.
Recentemente foi publicado um artigo no qual foi investigado se diferentes padrões alimentares durante o dia se relacionam com a ingestão de determinados nutrimentos, com a qualidade da alimentação e com a acumulação de gordura corporal. Curiosamente, observou-se que um padrão alimentar caracterizado por refeições muito frequentes se associou com uma pior qualidade da alimentação e com um aumento do consumo calórico. Este resultado foi observado quer em homens quer em mulheres, sendo que no caso das mulheres foi também observada uma associação com o excesso de peso/obesidade.
Os resultados deste estudo são, na minha opinião, em parte surpreendentes, pois normalmente assume-se que um fracionamento das ingestões alimentares durante o dia permitem um maior controlo da ingestão calórica e, consequentemente, do peso. No entanto, convém referir que neste caso os participantes não tinham que seguir nenhum tipo de aconselhamento alimentar, ou seja, podiam ir petiscando e bebendo normalmente. Ou seja, como é lógico este trabalho NÃO significa que o melhor é comer poucas refeições durante o dia, mas sim que não se pode generalizar e dizer que em todos os casos a melhor opção é fracionar muito as refeições. Pelo menos se não existir um aconselhamento alimentar sobre o que deve comer nesse fracionamento! De uma maneira geral existem vantagens em dividir o consumo calórico por um número de refeições maior do que as 3 refeições tradicionais (pequeno-almoço, almoço e jantar). No entanto, penso que o ideal é arranjar um compromisso individual entre o padrão alimentar de cada um e um fracionamento racional das refeições, principalmente se houver alturas do dia onde é mais difícil controlar o apetite. Além disso, o fracionar as refeições deve ser algo muito controlado, pois se em cada refeição forem cometidos excessos, se passar a fazer mais refeições por dia, significa que pelo menos teoricamente vai cometer mais excessos por dia. E de certeza que não é isso que quem quer perder peso quer que aconteça…

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