Nutrição geral

Prós e contras do jejum intermitente: jejum diário em dias alternados

Conforme escrevi recentemente, existem muitos tipos diferentes de jejum intermitente (mais informações neste post). Hoje vou falar-lhe sobre o jejum diário em dias alternados. Como o próprio nome indica, os praticantes deste tipo de jejum intermitente alternam os dias nos quais não consomem nenhuma caloria, com dias onde comem e bebem sem restrições. Na minha opinião parece-me uma situação demasiado forçada, que vai contra os princípios básicos do nosso metabolismo, pois o nosso corpo precisa de energia diária para funcionar corretamente. No entanto, ao efetuar-se este tipo de padrão alimentar, naturalmente que o consumo de calorias médio por dia tem tendência a diminuir, pois mesmo com excessos alimentares, na maioria das vezes nos dias em que se pode comer não se ingere o dobro das calorias que deveriam ser ingeridas. Devido a isso, tem vindo a ser descrito que este tipo de jejum intermitente pode ajudar a diminuir o peso, bem como a resistência à insulina (que está relacionada com a diabetes tipo 2, mais informação neste post). Há também estudos com ratos que revelaram que este tipo de jejum contribui para diminuir os níveis sanguíneos de colesterol e de triglicéridos, bem como de marcadores inflamatórios. Consequentemente, tem vindo a ser proposto que o jejum diário em dias alternados pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares e de alguns tipos de cancro. No caso dos estudos com humanos, importa referir que na sua grande maioria são estudos feitos com poucos participantes, o que significa que qualquer generalização feita a partir dos mesmos deve ser sempre encarada com muitas reservas… Além disso, há também outros aspetos que, na minha opinião, retiram alguma credibilidade a alguns desses estudos. Por exemplo, num dos trabalhos foi investigado o efeito no peso após 1 dia de jejum. Sendo o emagrecimento um processo contínuo, parece-me muito pouco lógico este tipo de observação! De qualquer das formas, genericamente estes estudos com humanos revelaram efeitos contraditórios, sendo que nalguns casos houve redução do peso e diminuição dos níveis de colesterol e triglicéridos, mas noutros não se observaram esses efeitos, sendo que nalguns casos até foram observados alguns potenciais riscos, tais como o aumento da resistência à insulina e dos níveis do chamado “mau colesterol” (LDL).
Há ainda algumas considerações que me parecem importantes… Este tipo de jejum parece diminuir o bem-estar psicológico das pessoas, o que se pode traduzir em mais infelicidade e menos produtividade. Além disso, naturalmente que nos dias de jejum haverá uma maior probabilidade de se sentir cansaço, dores de cabeça, falta de concentração e raciocínio mais lento (o nosso cérebro precisa continuamente de açúcar para obter a energia necessária para funcionar corretamente!). Também o facto de existirem dias nos quais os níveis de açúcar no sangue são baixos e, por isso, não é produzida insulina em quantidades significativas, e nos outros eventualmente haver uma produção muito elevada de insulina parece potenciar o risco de problemas na produção e na atuação da insulina a médio-longo prazo. Em relação aos dias em que não se está em jejum, destacaria dois riscos principais. Em primeiro lugar, a pessoa pode usar esses dias como escape para os dias de jejum e acabar por fazer tantas “asneiras alimentares” que compromete não só a quantidade de calorias que come, mas também a qualidade nutricional do que come (normalmente a ideia de alguém se “vingar” numa refeição está associada ao consumo de alimentos muito pouco interessantes do ponto de vista nutricional…). Ou seja, é fundamental quem faz este tipo de jejum perceber que nos dias em que pode comer, “não vale tudo”, tem que existir bom senso. Por outro lado, também pode acontecer o oposto, ou seja, a pessoa estar tão focada no objetivo de perder peso que acaba por restringir o que come mesmo nos dias nos quais poderia comer à vontade. E este tipo de comportamento é muito perigoso, pois facilmente se pode tornar numa obsessão em emagrecer.
Concluindo, apesar de poderem existir alguns potenciais benefícios, não sou um defensor deste tipo de jejum intermitente, pois parece-me demasiado radical. A nossa alimentação deve basear-se no equilíbrio das nossas escolhas, e este padrão não me parece suficientemente equilibrado. Na minha opinião há formas mais interessantes, saudáveis, sustentáveis e duradouras de se perder peso…

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