Grávidas, crianças e adolescentes

Consumo de fruta na escola primária: consequências a longo prazo

Apesar de toda a complexidade que rodeia a alimentação, há algumas ideias que são (quase) universais e que, devido a isso, são reconhecidas como válidas por toda a gente. Uma delas envolve o consumo de frutas e hortícolas e defende que uma alimentação rica nesse tipo de alimentos reduz o risco de mortalidade e de aparecimento de muitas doenças crónicas. Devido a isso, têm sido desenvolvidas várias estratégias no sentido de fomentar o seu consumo, em detrimento de outros alimentos nutricionalmente menos interessantes (ou mesmo totalmente desinteressantes!). Apesar dos esforços que têm vindo a ser feitos nesse contexto, a verdade é que uma grande parte da população Portuguesa não consome a quantidade diária de fruta (3-5 porções) e de hortícolas (3-5 porções) que devia.


Uma forma muito interessante de melhorar a qualidade da alimentação de cada um passa pela criação de uma consciência alimentar adequada durante a infância. Na realidade, as crianças são o público alvo ideal para muitas das estratégias de promoção de uma alimentação saudável, não só porque estão, de uma maneira geral, mais recetivas à aprendizagem e à mudança de comportamentos, mas também porque as mudanças que possam ser efetuadas têm uma maior probabilidade de se manterem ao longo do tempo. Devido a isso, têm-se vindo a desenvolver vários projetos que visam aumentar o consumo de alimentos saudáveis no contexto escolar. O fornecimento de leite escolar ou de fruta escolar são dois bons exemplos do que já vem sendo feito, e devem ser o ponto de partida para muito mais que pode ainda ser efetuado… No entanto, há algo que me parece fundamental destacar. O papel que a escola tem ao nível da promoção de uma alimentação saudável não substitui o dos pais (e restantes cuidadores) a esse nível. Não se pode esperar que as crianças adquiram competências a esse nível se só na escola é que têm esse tipo de alimentação. Ideias como “O meu filho não come sopa ao jantar porque já comeu ao almoço na escola” ou “O meu filho não come fruta à sobremesa porque já comeu na escola” devem ser combatidas e evitadas, pois dessa maneira parece que a alimentação (saudável) que as crianças tendem a fazer na escola é quase uma espécie de castigo… Há que trabalhar em equipa na escola e em casa, pois só dessa forma se vai conseguir melhorar de forma efetiva o presente, e acima de tudo o futuro, dos mais novos.

 

A escola tem um papel importante na promoção de uma alimentação saudável, que deve complementar o trabalho que é efetuado pelos pais.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista científica American Journal of Clinical Nutrition que procurou perceber qual o impacto a longo prazo (14 anos) de um programa de fornecimento de fruta em escolas primárias Norueguesas durante um ano. Os resultados obtidos revelaram que, de uma maneira geral, 14 anos após o fornecimento de fruta havia um aumento no consumo de fruta nas participantes do sexo feminino, principalmente no caso das com menos habilitações literárias. Curiosamente (ou não!), não se verificou um aumento no consumo de hortícolas nem uma diminuição no consumo de snacks pouco saudáveis.


Este estudo revela dados muito interessantes a vários níveis. Parece-me importante tentar perceber porque é que apenas as participantes do sexo feminino é que mudaram o comportamento a longo prazo, pois isso significa que a mensagem associada ao programa de fornecimento de fruta na escola não chega de igual forma aos meninos e às meninas. Também o facto de não se ter observado nenhuma consequência significativa ao nível do consumo de hortícolas e de snacks pouco saudáveis, mas apenas na fruta, revela que ainda há muito a fazer, e que não basta criar um programa de fornecimento de fruta para mudar globalmente os hábitos alimentares. É fundamental criar diferentes estratégias, que se complementem e que motivem as crianças no sentido da adoção de uma alimentação saudável a uma escala global. Reconheço a elevada importância dos pequenos passos que têm vindo a ser dados, mas ainda estamos no início da história e estes são claramente insuficientes. Não é uma tarefa fácil, mas se pensarmos nos potenciais benefícios a longo prazo, para a saúde das crianças e da sociedade como um todo, então percebemos que vai valer a pena!

 

Deve-se procurar criar estratégias que estimulem as crianças a adotarem uma alimentação saudável, de forma a que no futuro alguns desses hábitos se mantenham.

2 Comments

  • Fernanda

    Se as crianças forem desde bebés habituadas à fruta, irão sempre comer fruta ao longo da vida. O IP problema da nossa sociedade é que não há tempo para fazer sopa caseira, agora compra se a embalada, sem nutrientes quase nenhuns. Cresci numa família onde sempre abundou fruta e sopa todos os dias, só não comia quem não queria . Os pobres ainda são os que melhor se alimentam, pois não há dinheiro para snacks ou fast food.

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