Grávidas, crianças e adolescentes

Vitamina A: um aliado indispensável para grávidas e recém-nascidos

O desenvolvimento embrionário é um período da nossa vida crítico para aquilo que seremos após o nascimento. Apesar de o feto se encontrar no interior do útero da mãe, isso não significa que não esteja exposto ao ambiente, de forma indireta. Na realidade, é uma altura na qual estamos particularmente vulneráveis ao ambiente que nos rodeia! E um dos aspetos que mais pode influenciar o nosso desenvolvimento, no bom e no mau sentido, é a alimentação e o estado nutricional da mãe durante a gravidez. São muitos os erros alimentares que são vulgarmente cometidos por nós, mas que, na gravidez, assumem uma relevância maior. Evitar alimentos potencialmente perigosos, ter uma alimentação diversificada, com elevada higiene são alguns aspetos aos quais a grávida deve estar mais atenta. Além disso, deve procurar garantir uma ingestão adequada de todos os nutrimentos indispensáveis para o correto funcionamento do seu corpo e, igualmente, da vida que se está a gerar no seu interior. Esta situação é tão evidente que as recomendações nutricionais para alguns nutrimentos estão aumentadas durante a gravidez!
A vitamina A é um micronutrimento fundamental para várias funções do nosso corpo (pode ler mais sobre o assunto aqui). Do ponto de vista do desenvolvimento embrionário, sabe-se que esta vitamina é indispensável para o correto desenvolvimento do sistema nervoso, com influência direta ao nível da capacidade cognitiva da criança. Além disso, a vitamina A está também relacionada com o desenvolvimento dos sentidos, nomeadamente ao nível da visão e audição. Apesar de estar bem estabelecida a importância que níveis adequados de vitamina A representam para o desenvolvimento antes do nascimento (e depois também!), nos países subdesenvolvidos o número de casos de deficiência dessa vitamina é, no mínimo, assustador (15,3% das grávidas no Sul da Ásia, por exemplo).
Recentemente foi apresentado um trabalho no qual foi avaliado o impacto que a suplementação com vitamina A em grávidas e em recém-nascidos tem ao nível da capacidade intelectual, motora e comportamental das crianças, em países sub-desenvolvidos. Verificou-se que o rendimento escolar das crianças abrangidas pelos programas de suplementação foi significativamente maior do que as que não receberam a suplementação. Adicionalmente, também ao nível da sobrevivência dos recém-nascidos, a suplementação com vitamina A parece ter um impacto favorável, estando associada a uma menor mortalidade infantil.
Confesso que quando leio este tipo de artigos fico sempre com uma sensação de injustiça e frustração, pois além do fator económico desfavorável, que, por si só, impede muitas destas crianças de ter oportunidade de alcançar os seus objetivos, também são reféns de falta de conhecimento/investimento/motivação alimentar, que lhes pode condicionar aquilo que serão no futuro de forma irreversível. Quantas crianças não nascem, diariamente, com um potencial enorme, mas que na realidade não vão poder tirar partido desse potencial, porque a alimentação, que é possivelmente o direito fundamental mais elementar (e que deveria ser universal!), lhes nega essas características? Eu sei que isto são ideias que muitas vezes são ditas de forma fútil e vazia, mas muitas vezes quando vou às compras penso como o nosso consumo alimentar se baseia tantas vezes nos produtos mais atraentes, ou com sabores/aromas que nos agradam mais, enquanto naquele momento, noutras partes do mundo, muitas pessoas só precisavam de algo que lhes fornecesse o básico para garantir as suas funções básicas. E isto, no mínimo, dá que pensar…

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