Grávidas, crianças e adolescentes

Marketing alimentar… cuidado com a forma como as crianças encaram os alimentos!

Atualmente está a viver-se um período muito interessante na área da alimentação/nutrição. Nunca tanto como agora as pessoas estiveram tão atentas ao que comem. Nunca tanto como agora existiu uma variedade tão grande de produtos alimentares e suplementos disponíveis. Nunca tanto como agora existiu tanta (des)informação sobre “os alimentos que fazem bem e os alimentos que fazem mal”. Nunca tanto como agora a alimentação movimentou tanto dinheiro. Nunca tanto como agora… Todos estes desafios, dúvidas, opiniões e contradições com que se lida diariamente tornam o mundo da nutrição ainda mais fascinante. Obviamente que quando falo em alimentação, estou a falar em algo que é universal, pois toda a gente come, e por isso, toda a gente (ou quase!) tem opinião formada sobre os alimentos.
Por tudo isto, tem-se assistido nos últimos tempos a uma mudança significativa ao nível da forma como as empresas chegam aos consumidores, pois quase todas elas fazem alegações de saúde, tentando destacar o que de bom pode existir nos seus produtos, ocultando os aspetos menos positivos. Como é lógico não vou falar de marcas, mas neste momento até as marcas que há uns anos seriam as mais improváveis de defender uma alimentação saudável têm esse tipo de alegações! Mas será que uma alegação de que o produto X tem mais disto ou menos daquilo, o torna num produto saudável? Claro que não, por muito que o tentem fazer parecer! O marketing alimentar é extremamente feroz, agressivo, e, muitas vezes, genial. No nosso dia-a-dia somos confrontados com inúmeras mensagens, umas mais evidentes, outras mais ocultas, que nos influenciam o comportamento alimentar ou, pelo menos, tentam… Se pensarmos em alimentos pouco saudáveis para crianças, ricos em açúcar, gordura ou sal, vemos que normalmente há mensagens nutricionais positivas que se destacam dos aspetos menos positivos. Por exemplo, se eu quiser vender um produto carregado de açúcar e gordura, posso enriquecê-lo com fibra, e destacar isso mesmo. Nada melhor do que aparecer em grande destaque uma informação do género “rico em fibra”, para disfarçar os problemas nutricionais desse alimento… Mais ainda, o meu produto pode até nem ter nada de interessante do ponto de vista nutricional, mas se eu fizer um anúncio a promover um estilo de vida saudável, o produto passa a ser associado a esse estilo de vida! Lanço-lhe um desafio, tente ver com mais atenção a publicidade dos produtos para crianças ditos “menos saudáveis”, e provavelmente vai ficar surpreendido
Recentemente foi divulgado um estudo muito interessante na revista Pediatric Obesity, no qual se procurou perceber qual o impacto que as mensagens relacionadas com benefícios nutricionais e/ou com estilos de vida mais saudável, associadas a alimentos considerados “não saudáveis” têm ao nível da forma como as crianças encaram esses alimentos. Os investigadores observaram que as crianças passaram a considerar esses produtos como mais saudáveis. Infelizmente, não aumentou a perceção acerca de outros alimentos considerados “saudáveis”. Verificou-se igualmente que as crianças apresentaram preferência pelos produtos “não saudáveis” com alegações de benefícios nutricionais, do que os que não tinham esse tipo de alegações, independentemente de serem (ou não!) equivalentes!
Estes resultados dão que pensar… Na minha opinião o tipo de alegações que referi neste post são uma espécie de “desvio de atenções”, que pode condicionar de forma decisiva não apenas o ato da compra dos alimentos, como a própria perceção do que é (in)correto do ponto de vista alimentar! Ou seja, podem estar a criar claramente uma consciência errada do que está certo e do que está errado em relação à alimentação. Não é um problema com resolução fácil, mas tem que haver uma regulamentação muito mais rigorosa e eficaz, pois as crianças precisam de ter informação correta à sua disposição. E quando me refiro a informação correta, não falo apenas em verdade ou mentira, mas sim em fornecer as informações no contexto adequado. Criar uma consciência alimentar adequada nas crianças é sinónimo de contribuir para que elas cresçam saudáveis e para que tenham um melhor futuro! E se por um lado é preciso haver regulamentação ao nível do marketing, também os pais/educadores têm um papel indispensável a este nível, pois devem funcionar como filtro, ajudando as crianças a perceber o que está certo e o que está errado. Informe-se, leia rótulos, procure esclarecer-se, pois assim está a contribuir para que o futuro dos seus filhos seja mais risonho!

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