Nutrição geral

Ingestão de cálcio e diminuição do risco de problemas de saúde

Vivemos numa época onde, na minha opinião, o leite e os seus derivados (mas principalmente o leite!) são muito “maltratados”. São muitas as pessoas que defendem que o consumo de produtos lácteos deve ser evitado, apresentando vários argumentos (alguns até bastante criativos…) a favor dessa ideia. Independentemente de estarem certas ou erradas, uma coisa é certa: NÃO existe evidência científica robusta que apoie a eliminação do leite e derivados da nossa alimentação, muito pelo contrário. Há muitos mais estudos que destacam os seus benefícios do que os potenciais riscos. No entanto, há casos onde, obviamente, o consumo de produtos lácteos deve ser evitado. Estou a falar essencialmente dos casos de intolerâncias/alergias alimentares a esses produtos. De resto, na minha opinião, pode e deve beber leite. Trata-se de um alimento muito rico do ponto de vista nutricional, sendo uma ótima fonte de proteína, várias vitaminas e vários minerais, como o cálcio, por exemplo. Claro que qualquer um desses macro- ou micronutrimentos pode ser obtido a partir de outros alimentos, mas isso é mais uma questão de gosto pessoal do que de efeitos práticos na saúde, pelo menos para a maioria das pessoas. Ou seja, mesmo quem não bebe leite (nem outros produtos lácteos) consegue ingerir quantidades de cálcio adequadas.
Mas voltando ao cálcio, que é o elemento central deste post, trata-se um mineral que desempenha muitas e importantes funções no nosso corpo. A mais conhecida está relacionada com os ossos, pois o cálcio é um dos seus componentes principais. Devido a isso, tem sido recomendada uma ingestão adequada de cálcio para prevenir o risco de fraturas ósseas. Além desta função, sabe-se também, por exemplo, que o cálcio é importante na proteção contra enfartes do miocárdio e AVCs, devido principalmente à regulação dos níveis de gordura no sangue.
Recentemente foi publicado um estudo no qual se avaliou de que forma a ingestão alimentar de cálcio pode estar relacionada com o risco de enfarte do miocárdio, AVC e fratura óssea, em populações com baixa ingestão de cálcio. Este trabalhou contou com a participação de mais de 4000 voluntários. Foi observado que em mulheres, a ingestão de quantidades elevadas (mas adequadas!) de cálcio provocou uma diminuição do risco de enfarte do miocárdio, mas não teve impacto significativo no risco de AVC nem de fratura. No caso dos homens, não foi observada nenhuma associação entre o consumo de cálcio e as consequências avaliadas.
Decidi falar-lhe hoje sobre este estudo para demonstrar que, na área da nutrição, há ainda uma grande controvérsia sobre vários temas. Apesar de ter sido observada uma relação importante entre o consumo de cálcio e o risco de enfarte do miocárdio em mulheres, nos restantes parâmetros aparentemente a ingestão de cálcio não teve grande impacto. Mais uma vez voltamos a um aspeto que me parece fundamental: tão importante como quantificar aquilo que comemos, é também saber combinar o que comemos, e distribuir esses alimentos de forma correta nos diferentes períodos do dia. Neste artigo que lhe falei, apenas se quantificou o cálcio total ingerido, mas será que a maior parte foi absorvida e utilizada pelo organismo? Será que as principais fontes de cálcio nessas pessoas estavam combinadas com alimentos que diminuem a utilização desse cálcio? Será que as principais fontes de cálcio foram todas ingeridas ao mesmo tempo? Estas questões, e muitas outras, são fundamentais quando se tenta perceber como otimizar a nossa alimentação. Existem muitas formas de interpretar a informação que nos dão, sendo que uma interpretação errada pode distorcer completamente a mensagem. Infelizmente na área da Nutrição observa-se muito isso. É fundamental ter consciência de que além de comermos os alimentos, também temos que ter a capacidade de os digerir, de absorver os nutrimentos e de os utilizar corretamente. É, por isso, fundamental, ter uma visão mais alargada e integrada da nossa alimentação. Só assim estaremos preparados para tirar partido de tudo aquilo que comemos…

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