Nutrição geral

Os peixes de aquacultura são uma boa opção? (desvantagens)

Recentemente escrevi um post sobre as vantagens da aquacultura (pode ler esse post aqui). Apesar de ter vantagens associadas, a aquacultura apresenta também potenciais problemas, que podem ser muito relevantes para a saúde dos consumidores e para o meio-ambiente. Convém estar atento a este lado “negro” da aquacultura, para que, na altura de comprar pescado, os consumidores possam tomar as melhores decisões…


Tal como acontece na pecuária, os peixes de aquacultura são tradicionalmente alimentados com ração, sendo esta uma das grandes preocupações dos consumidores. Convém não esquecer que nós alimentamo-nos de outros seres vivos, e por isso se nós somos o que comemos, também os nossos alimentos são o que comeram. Ou seja, a qualidade daquilo que nós ingerimos depende, obviamente, das condições em que os alimentos/ingredientes foram produzidos e/ou capturados (mais informações sobre esse assunto neste post). Devido a isso, tem sido dada uma atenção crescente à alimentação dos peixes de aquacultura, sendo que, por um lado, esta deve otimizar as condições de crescimento do pescado, mas por outro não deve comprometer a qualidade nutricional do mesmo. Também a possibilidade de transmissão de pragas e doenças aos animais do meio onde é realizada a aquacultura me parece um problema grave, uma vez que nem sempre as condições de cultura são as melhores, e como se trata de uma criação em meio aquático, a disseminação desse tipo de situações é mais provável de ocorrer. Neste contexto parece-me importante referir que as doenças em aquacultura podem de facto ser um problema sério, pois os peixes são criados em condições de elevada proximidade uns dos outros, e a remoção dos peixes infetados nem sempre é efetuada (tal como ocorreria em contexto selvagem pelos predadores). Devido a isso, a aquacultura recorre muitas vezes à utilização de antibióticos e outros fármacos, no sentido de controlar possíveis doenças/pragas, ainda que, com o aumento da fiscalização e com a adoção de medidas preventivas (vacinação, por exemplo), esta situação tenha vindo a diminuir. De qualquer forma, a utilização excessiva de fármacos continua a ser uma situação de potencial risco não apenas para os consumidores, mas também para toda a vida selvagem que existe em redor das explorações de aquacultura.

 

A utilização (por vezes excessiva) de fármacos pode colocar em risco os consumidores e toda a vida selvagem em redor das explorações de aquacultura.

 


Do ponto de vista nutricional, os peixes de aquacultura têm tendência a apresentar uma maior percentagem de gordura, em particular gordura saturada, mas também ómega-6, quando comparada com a gordura ómega-3 (considerada a gordura potencialmente mais benéfica), com potenciais consequências negativas para os consumidores. Além das diferenças nutricionais, tendencialmente o peixe de aquacultura é mais mole e menos saboroso. Também o risco de ocorrência de contaminação com outros poluentes orgânicos (PCBs, dioxinas e pesticidas clorados, por exemplo) parece ser superior nos peixes de aquacultura. No entanto, a este nível parece-me muito importante destacar que obviamente que esta situação depende das condições de produção do pescado, pelo que é injusto generalizar este tipo de ideia.


Muitas vezes as espécies criadas em aquacultura não fazem parte desse ecossistema, pelo que o risco de introdução de espécies invasoras é também de salientar, no caso de ocorrerem fugas de animais para o ambiente selvagem. Além disso, os efluentes provenientes da aquacultura são também um potencial problema ecológico, se forem lançados para o meio ambiente sem os devidos tratamentos. O crescimento por vezes descontrolado das explorações de aquacultura é também problemático do ponto de vista ambiental, que tem vindo a ameaçar diversos habitats de espécies selvagens.

 

Os peixes de aquacultura apresentam algumas diferenças nutricionais importantes, quando comparados com os respetivos peixes frescos.

 


Portanto, é inegável que o pescado de aquacultura apresenta várias potenciais desvantagens. Identificar essas desvantagens e reunir informação suficiente para poder lidar com as mesmas é fundamental para se tomar as melhores decisões alimentares.

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