Nutrição desportiva

Exercício físico em jejum… implicações na gestão do peso!

Apesar da Nutrição estar longe de ser uma ciência exata, há alguns dados objetivos que são incontornáveis. E um deles é claro: o nosso peso reflete a diferença entre as calorias que se ingerem e as calorias que se gastam. Ou seja, se eu consumir mais calorias do que gasto, vou engordar; se eu consumir menos calorias do que as que gasto, vou emagrecer. Devido a isso, facilmente se percebe que há duas grandes áreas de intervenção na gestão do peso que, se possível devem ser combinadas: a alimentação e o exercício físico!


No entanto, a combinação da nutrição com o exercício físico nem sempre é fácil de efetuar… Por um lado, se eu consumir menos calorias, posso sentir algum cansaço, e menos vontade de fazer exercício físico. Por outro lado, se eu fizer exercício físico posso sentir mais fome. Devido a isso, são muitas as possíveis estratégias que se podem adotar no sentido de otimizar a junção das duas variáveis. A mais comum passa por uma organização do dia alimentar de forma a contemplar a altura do dia na qual é praticado o exercício físico. Por exemplo, se o treino for ao final da tarde, muitas vezes o lanche é planeado no sentido de haver o consumo de alguns alimentos num horário próximo do horário do treino. Uma outra estratégia, mais polémica/discutível, que tem vindo a ser implementada por muitas pessoas, passa por praticar exercício físico em jejum (antes do pequeno-almoço).

 

A adoção de uma alimentação saudável e a prática de exercício físico regular são os dois grandes pilares para se conseguir perder peso de forma equilibrada e sustentável.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista científica The Journal of Nutrition no qual foi avaliado o impacto que a prática de exercício físico em jejum tem ao nível do consumo total de calorias durante o dia. De uma maneira geral foi observado que a ausência do consumo do pequeno-almoço antes da prática de exercício físico não foi compensada posteriormente com um aumento da ingestão alimentar durante o dia.


Portanto, com base no estudo que eu referi, os participantes sujeitos à prática de exercício físico em jejum não tiveram tendência para compensarem esse período com um aumento da ingestão calórica. Consequentemente, criaram um cenário no qual se tornou mais favorável a restrição das calorias consumidas. Tratam-se de resultados interessantes, que podem indicar que, nalguns casos, a prática de exercício físico em jejum pode ser uma boa opção. No entanto, há algumas considerações que me parecem muito relevantes de fazer neste contexto. Em primeiro lugar, este estudo utilizou um número de participantes bastante baixo, pelo que a extrapolação dos resultados para a população em geral não pode ser feita de forma automática. Em segundo lugar, convém ter a noção de que a prática de exercício físico em jejum pode potenciar quebras de açúcar no sangue. Consequentemente, existe um maior risco de tonturas e mesmo quedas, sendo que este cenário não pode ser desvalorizado, pois as consequências de uma queda podem ser muito graves. Em terceiro lugar, importa salientar que neste tipo de trabalhos normalmente não é avaliado o bem-estar psicológico dos participantes. E este aspeto parece-me fundamental, pois é dele que depende diretamente o sucesso a longo prazo da intervenção de gestão de peso. Juntando todos estes dados, acredito que a prática de exercício físico em jejum pode, de facto, ser uma opção interessante para algumas pessoas, mas não tenho grandes dúvidas que para outras não será de todo a melhor estratégia. Fica mais uma vez reforçada a ideia de que não há intervenções de gestão de peso que possam ser generalizadas, e cada caso é um caso. Conhecer as características individuais de cada um, e desenhar uma estratégia individualizada que vá de encontro aos objetivos, expectativas e características de cada pessoa é fundamental para o sucesso da mesma!

 

Para algumas pessoas a prática de exercício físico em jejum pode ajudar a emagrecer.

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