Fatores alimentares na hiperatividade
Grávidas, crianças e adolescentes

Possíveis fatores alimentares relacionados com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção

Conforme tive oportunidade de escrever recentemente, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma doença muito complexa, de diagnóstico complicado, e sobre a qual há muitas dúvidas mas ainda poucas certezas (pode ler mais sobre esse assunto neste post). A relação entre a PHDA e a alimentação é algo que, pelo menos teoricamente, me parece que faz sentido. Nos últimos anos têm vindo a ser propostos vários fatores alimentares relacionados com a doença. Aqui ficam os principais:


Carência de vitamina D – De uma maneira geral a carência de vitamina D é uma situação que parece afetar uma percentagem muito significativa da população. É um assunto bastante controverso e que seguramente irá merecer uns posts no futuro, aqui no Mundo da Nutrição… Estudos recentes têm vindo a sugerir que pacientes com PHDA têm tendência a apresentar níveis mais baixos desta vitamina.


Carência de gordura ómega-3 – A carência de gordura ómega-3 parece ser algo frequente em pacientes com PHDA, principalmente em casos de comportamento mais alterado por causa da doença. Devido a isso, tem-se especulado que este tipo de gordura em particular pode ser importante para o aparecimento e/ou desenvolvimento da doença. Além disso, há também estudos que sugerem que uma ingestão adequada deste tipo de gordura durante a gravidez contribui para diminuir o risco de aparecimento da doença no filho.


Carência de ferro – O ferro é um mineral que desempenha muitas e importantes funções no nosso corpo. Há estudos que sugerem que os níveis deste micronutrimento parecem ser inferiores em pacientes com PHDA.

 

São várias as carências nutricionais identificadas numa percentagem significativa de pacientes com PHDA, nomeadamente carência de vitamina D, gordura ómega-3 e ferro.

 


Carência de zinco – Tal como acontece com o ferro, o zinco também é indispensável para o correto funcionamento do nosso organismo. No entanto, parece existir uma tendência para que pessoas com PHDA apresentem níveis deste mineral inferiores ao normal.


Carência de magnésio – Há vários estudos que sugerem que os níveis de magnésio nos pacientes com PHDA são significativamente mais baixos do que em pessoas que sofrem dessa doença. Todavia, se esta carência é causa ou se é consequência da PHDA permanece por esclarecer.


Período de amamentação curto – Nos últimos anos tem-se dado um destaque cada vez maior aos benefícios do leite materno (mais informações sobre esse assunto neste post e neste post). Nesse contexto, tem vindo a ser sugerido que crianças que são amamentadas durante menos tempo apresentam um maior risco de virem a sofrer de PHDA.

 

Níveis baixo de zinco e/ou de magnésio têm vindo a ser encontrados com maior frequência em pacientes com PHDA. Também o período de amamentação parece influenciar o risco de aparecimento da doença.

 


Portanto, como pode verificar, atualmente acredita-se que pelo menos alguns casos de PHDA possam estar relacionados com algumas carências nutricionais específicas. Nesse sentido, antes de definir uma intervenção nutricional para pacientes que sofrem desta doença, deve ser feita uma análise ao estado nutricional dos mesmos, de forma a perceber se existe algum tipo de carência em específico, e atuar eficazmente no sentido de a contrariar. Como o conhecimento atual é ainda bastante limitado a este nível, para já só está recomendado corrigir défices nutricionais que estejam bem documentados.


Para terminar, também gostaria de referir que o papel das carências nutricionais que eu referi neste post ao nível da PHDA tem sido proposto com base essencialmente em estudos que revelam que pessoas com a doença apresentam carências desses nutrimentos. Ou seja, não provam diretamente que essas carências nutricionais sejam a causa da doença, pois podem simplesmente ser uma consequência de maus hábitos alimentares, que, por sua vez, é uma consequência muito frequente da PHDA. Além disso, alguns dos medicamentos usados para tratar a doença apresentam como possível efeito secundário alterações do apetite, o que também pode justificar alguns dos desequilíbrios nutricionais referidos neste post. Mais e melhores estudos são necessários para se perceber melhor qual a relação existente entre os défices nutricionais descritos e a PHDA.

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