Mão com inchaços associados a gota
Nutrição geral

Ácido úrico: amigo ou vilão?

Provavelmente já ouviu alguém dizer que tinha ido fazer análises e descobriu que tinha ácido úrico. E dito desta forma, parece que uma pessoa ter ácido úrico na corrente sanguínea é algo negativo, algo prejudicial para a saúde. Por isso, em primeiro lugar importa desmisitificar o conceito de “ter ácido úrico”. O ácido úrico é uma substância que é produzida naturalmente no nosso corpo, e que também é obtida a partir da alimentação. Na realidade, o nosso corpo produz ácido úrico quando está a degradar umas moléculas chamadas purinas, ou seja, trata-se de um produto de excreção. Tal como acontece inúmeras vezes na nossa bioquímica, o facto de ser um produto de excreção não significa que, enquanto que não é eliminado, não seja utilizado para benefício próprio. De facto, o ácido úrico é uma substância com função antioxidante, por isso até é desejável que exista algum ácido úrico na corrente sanguínea. O problema está quando este se encontra em excesso…


Quando existe um excesso de ácido úrico no sangue, diz-se que a pessoa tem hiperuricemia. Provavelmente estará a pensar que o nome correto seria gota… Gota significa algo diferente (mas parecido!). Como o ácido úrico é pouco solúvel em água, quando está em excesso pode começar a formar cristais. Estes cristais tendem a acumular-se nas articulações, principalmente das mãos e dos pés, dando origem a reações inflamatórias muito significativas. E quando isso acontece, diz-se que a pessoa sofre de gota. A gota é, por isso, uma doença inflamatória das articulações causada por excesso de ácido úrico. É uma doença particularmente frequente (para ter uma ideia, só nos Estados Unidos da América estima-se que haja mais do que 8 milhões de pessoas com gota!!!). Além de provocar um inchaço evidente nos locais de acumulação de cristais de ácido úrico, esta doença está associada a dores fortes e incapacidade de utilizar corretamente as articulações afetadas. Como são essencialmente inflamatórias, as crises de gota têm tendência a ser mais intensas à noite, e costumam durar 3-10 dias.

 

Quando está em excesso, o ácido úrico pode formar cristais e depositar-se nas articulação, dando origem a uma doença chamada gota.

 


Mas afinal o que é que causa a gota? São vários os fatores que podem desencadear a doença, sendo de destacar o sedentarismo, o excesso de peso e, obviamente, a alimentação. Com isto não quero dizer que a gota é uma doença exclusivamente comportamental, pois obviamente que a genética é importante, mas se se adotar um estilo de vida saudável há menos probabilidade de vir a sofrer da doença. Por isso, quando alguém tem níveis elevados de ácido úrico no sangue, deve tentar fazer alterações no dia-a-dia, de forma a diminuir esses valores sem ser necessário recorrer à medicação (pelo menos numa primeira fase). E se mesmo assim não for possível, a medicação poderá ser um aliado importante. Sabe-se que a perda de peso é um fator importante para ajudar a diminuir os níveis de ácido úrico no sangue. Apesar de não ser obrigatório que alguém com obesidade tenha excesso de ácido úrico, esta associação é relativamente frequente. Também a prática de exercício físico regular parece contribuir para diminuir o risco de crises de gota. A redução do stress e da ansiedade, juntamente com um descanso adequado são fatores importantes para manter os valores de ácido úrico dentro da normalidade.


Do ponto de vista alimentar, pessoas com gota, ou com risco elevado de sofrer da doença, devem diminuir o consumo de alimentos ricos em purinas, pois como as purinas em excesso são convertidas em ácido úrico, podem potenciar o problema. Curiosamente, dados recentes têm vindo a sugerir que os alimentos de origem vegetal ricos em purinas não têm as mesmas consequências negativas que os alimentos de origem animal. Ou seja, o teor de purinas não é a única característica que se deve valorizar, mas é algo muito importante… Em breve irei escrever sobre quais os alimentos a evitar e quais os que deve consumor quando se quer prevenir uma crise de gota, ou, eventualmente, quando se quer fazer descer os níveis de ácido úrico.

 

A gota é uma doença multifatorial, com vários fatores de risco. Além da genética, há vários fatores comportamentais importantes, tais como o excesso de peso, o sedentarismo, o stress, a ansiedade, a falta de descanso e, obviamente, a alimentação.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *