O envelhecimento é algo que me dá muito que pensar… E quando penso sobre esse assunto, não consigo deixar de sentir uma ambiguidade de sentimentos… Por um lado, é sinónimo de sabedoria, de paz interior, de realização de objetivos e sonhos. É ótimo olhar para trás e ter a sensação de dever cumprido, à medida que vamos fechando ciclos ou etapas. Mas por outro lado, o envelhecimento é também sinónimo de perda de funções, e de aumento do risco de problemas e saúde. Qual dos dois fatores pesa mais na forma como cada pessoa encara o envelhecimento depende das características individuais de cada um. Uma coisa é certa, o envelhecimento é algo que não se pode evitar, e por isso é que quando ouço a expressão “anti-envelhecimento” não consigo deixar de achar que é um conceito errado, pois simplesmente não existe nada que impeça esse processo. Mas isso quererá dizer que não há nada a fazer, e que nos resta ficar à espera que o nosso corpo se vá transformando lentamente? Será que não temos algum poder na nossa mão de alterar a forma como o envelhecimento acontece? Claro que temos, e a alimentação pode ser um aliado precioso nesse contexto!
O grande pilar do envelhecimento é um processo chamado stress oxidativo, que envolve a atuação de umas substâncias chamadas de radicais livres (provavelmente já ouviu falar neste conceito). Basicamente esses radicais livres vão começar a destruir as nossas células, sendo que para nos protegermos dos mesmos precisamos dos antioxidantes. E a melhor forma de aumentarmos a quantidade de antioxidantes é através da alimentação. São muitos os antioxidantes existentes nos alimentos, sendo que alguns deles são vitaminas, e outros são compostos bioativos. Uma das principais classes de antioxidantes são os flavonoides, não só pela elevada abundância em vários alimentos, mas também porque se tratam de antioxidantes muito potentes.
O envelhecimento é uma consequência da acumulação de danos causados pelos radicais livres. A melhor forma de nos protgermos contra esses danos é mantendo níveis adequados de antioxidantes.
Recentemente foi publicado um estudo na revista American Journal of Clinical Nutrition, no qual se procurou perceber se existe uma relação entre o consumo de flavonoides e uma consequência muito frequente do envelhecimento, a um problema visual chamado degeneração da mácula (convém referir que a degeneração da mácula associada ao envelhecimento é de longe a principal causa de cegueira e limitação visual grave em idosos!). Verificou-se que uma ingestão mais elevada de alimentos ricos em flavonoides (fruta, chá, etc.) provocou uma diminuição significativa do risco de aparecimento da doença.
Apesar de não considerar surpreendentes estes resultados, na minha opinião merecem destaque por vários motivos. Em primeiro lugar, porque a maior parte dos estudos que avaliam o impacto de antioxidantes na saúde ocular não envolvem a utilização de flavonoides, mas sim outros antioxidantes (vitamina C, vitamina E, luteína e outros carotenoides, etc.). Em segundo lugar, porque este estudo é apenas mais uma gota de água a somar a todas as restantes, que vem demonstrar a importância de aumentar o consumo de fruta e hortícolas. Em terceiro lugar, porque vem demonstrar que apesar de não conseguirmos evitar o envelhecimento, pelo menos está nas nossas mãos em parte controlar como queremos envelhecer. Fazer boas escolhas alimentares durante toda a vida (e não apenas quando se chega a uma idade mais avançada!) é meio caminho andado para podermos ter um envelhecimento mais saudável. Consequentemente, consegue-se manter a qualidade de vida durante mais tempo. E afinal, não é isso que toda a gente quer?
Um aumento do consumo de alimentos ricos em flavonoides, tais como fruta, chá, entre outros, parece proteger os olhos contra alguns efeitos frequentes do envelhecimento.
