Nutrição geral

Será que faz sentido alguém ser considerado simultaneamente obeso e saudável?

Sofrer de obesidade está muito longe de ser “apenas” um problema que afeta a parte estética e a auto-estima das pessoas (ainda que estes sejam aspetos muito importantes). É um erro as pessoas com obesidade acharem que “têm apenas barriga”, pois na realidade esse excesso de peso tem consequências graves ao nível do funcionamento do seu corpo e, consequentemente, ao nível do risco de sofrerem de diversos problemas de saúde. Claro que há obesidades e obesidades, e que nem todas provocam o mesmo tipo de alterações e problemas, mas uma coisa é certa e deve ser sempre destacada: a obesidade é uma doença crónica grave e nunca, mas mesmo nunca, deve ser desvalorizada!
De uma maneira geral, a obesidade está associada a várias complicações de saúde, tais como níveis elevados de colesterol, triglicéridos e/ou ácido úrico no sangue. É também frequente a sua associação com o aparecimento de diabetes tipo 2 e de alguns tipos de cancro, bem como de doenças cardiovasculares. No entanto, de certeza que conhece pelo menos uma pessoa que apesar de ter obesidade, não aparenta ter nenhum (outro) problema de saúde. Aliás, muitas vezes fazem análises e todos os parâmetros estão dentro dos valores considerados normais, ou seja, aparentemente não existem desregulações metabólicas evidentes. Estas pessoas são consideradas “apenas” obesas, ou então “obesas saudáveis”. Mas sabendo que a obesidade é uma doença crónica, será que faz mesmo sentido o conceito de “obesidade saudável”? Na minha opinião claro que não!
Recentemente foi publicado um estudo no qual foi avaliado o impacto que a “obesidade saudável” tem no risco de desenvolvimento de hipertensão arterial e diabetes. No mesmo trabalho foi avaliado o impacto que níveis elevados de ácido úrico no sangue podem ter no desenvolvimento das mesmas doenças. Os resultados obtidos não deixaram grande margem para dúvidas: a obesidade é claramente um fator de risco para a hipertensão arterial e para a diabetes, independentemente do envolvimento de outras variáveis metabólicas. Um resultado semelhante foi obtido no caso de excesso de ácido úrico.
Devo confessar que não fiquei surpreendido com os resultados obtidos. Parece-me lógico que independentemente de os parâmetros analisados por rotina poderem estar bem, a obesidade tem sempre potenciais consequências negativas associadas. É preciso ter a noção de que quando se fazem análises, apenas se avaliam algumas características, mas há muitas outras que não são analisadas. Portanto, não se pode concluir que não existe nenhum problema de saúde só porque as análises estão normais, apenas se pode concluir que as características analisadas estão normais, e isto é totalmente diferente… Portanto, a obesidade deve ser sempre encarada como uma doença crónica que deve, sempre que possível, ser “tratada” com um estilo de vida mais saudável no qual se inclui, obviamente, uma alimentação mas correta.

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