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Consumir geleia de agave… será que é grave? (principais riscos)

A geleia de agave é um excelente exemplo de como o marketing influencia a nossa visão sobre determinado alimento. A busca por alternativas mais saudáveis para a nossa alimentação e, em particular, para o açúcar refinado, tem feito florescer a indústria dos adoçantes alternativos, sendo que, nalguns casos, com muito pouco suporte científico sobre os potenciais benefícios desses adoçantes. Só para ter uma ideia, só nos EUA este mercado movimenta milhares de milhões de dólares!!! De uma maneira geral, a opinião dos consumidores sobre a geleia de agave (tenham já experimentado, ou apenas tenham ouvido falar) é que se trata de um substituto do açúcar muito mais saudável, que é natural e que não existem grandes riscos associados ao seu consumo. Não se tratando de um tema consensual, para mim há algo que é óbvio: a geleia de agave não é, nem de longe nem de perto, uma alternativa muito saudável, mas também não é nenhum demónio, sendo que, do ponto de vista de variedade alimentar, é uma alternativa que pode ser incluída para, nalgumas situações, poder substituir a utilização de açúcar branco. Curiosamente, vários defensores da geleia de agave no passado, têm mudado a sua opinião, com base nas evidências científicas mais recentes. Talvez o caso mais mediático seja o do dr. Oz, que veio publicamente e oficialmente referir que apesar de no passado ter aconselhado o consumo de geleia de agave, atualmente acredita que a mesma deve ser removida da alimentação.
Devido a esta controvérsia, e tendo eu há pouco tempo colocado aqui no blog um post sobre os potenciais benefícios da geleia de agave (pode ler o post aqui), sinto-me na obrigação moral de apresentar também os principais riscos associados ao seu consumo:
1. Para quem acha que a geleia de agave é um produto natural, convém saber que a sua produção requer um elevado processamento da planta original, que origina enormes perdas no seu valor nutricional. Ao contrário do que a indústria quer fazer crer, a geleia de agave não circula nas folhas da planta. Ao contrário disso, é produzida a partir da seiva que circula na raiz volumosa (semelhante a um ananás) da planta. Basicamente, a seiva da planta tem que ser extraída, filtrada, aquecida, processada e concentrada, de forma a obter-se a geleia de agave como nós a conhecemos, que supostamente é um “produto natural”. Ironicamente, a raiz da planta é processada de forma a que a inulina (um tipo de fibra alimentar muito abundante nessa raiz e que é muito saudável) seja convertida em frutose, um processo idêntico ao que ocorre na produção do xarope de milho e que é o principal responsável pelo facto desse xarope dever ser evitado na nossa alimentação!
2. A geleia de agave é pobre do ponto de vista nutricional, pois é quase na totalidade composta por hidratos de carbono, apresentando também quantidades vestigiais de fibra e de alguns minerais. Isto contrasta claramente com a riqueza nutricional existente na planta original (muito rica em antioxidantes e vários outros compostos bioativos) e reflete o grau de processamento que existe durante a preparação da geleia de agave.
3. Talvez a pior característica da geleia de agave seja o seu elevado teor em frutose, sendo mais elevado do que a maior parte dos produtos cujo consumo não é aconselhado devido a conterem muita frutose!!! Em termos de comparação, o açúcar branco contém 50% de frutose, enquanto que cerca de 85% dos açúcares da geleia de agave são frutose (na realidade este valor pode oscilar entre 50% e 90%, dependendo das marcas, mas o mais frequente é cerca de 85%). E qual é o problema desta característica? Atualmente há alguns estudos que sugerem que o consumo de frutose em excesso parece estar relacionado com um aumento dos triglicéridos no sangue, acumulação de gordura abdominal, resistência à insulina, o que leva ao aumento do risco de várias doenças, entre as quais a diabetes tipo 2, síndrome metabólica, obesidade, alguns tipos de cancro, entre muitas outras. Apesar de, na minha opinião, os resultados ainda não serem consensuais e conclusivos sobre os riscos (ou não) do consumo excessivo de frutose, parece-me sensato que os alimentos ricos neste açúcar sejam consumidos com moderação.
4. A geleia de agave fornece uma quantidade de calorias elevada, ainda que ligeiramente inferior à do açúcar branco. Deve ter atenção este aspeto em particular, na altura de comprar geleia de agave, pois o valor calórico da geleia de agave varia bastante consoante a marca.
O que eu gostava que ficasse claro é que na alimentação quase nunca devemos falar em termos absolutos. Ou seja, eu não devo dizer que determinado alimento “é bom” ou “é mau”. Devo falar sempre em termos relativos, devo sempre comparar um determinado alimento com outro. Portanto, no caso da geleia de agave, eu devo comparar com o açúcar ou os outros adoçantes e avaliar o que ganho ou o que perco com o seu consumo. Em particular no caso dos adoçantes, parece-me que o mais importante não é o tipo de adoçante que se consome, mas sim a quantidade que se consome.

 

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