Nutrição geral

Hipertensão arterial: não basta saber o que comer, é preciso saber QUANTO comer

A hipertensão é uma doença complexa na qual a alimentação tem um papel muito importante (mais informações aqui). Apesar de ter uma prevalência simplesmente assustadora, afetando um número enorme de pessoas em todo o mundo, os valores têm aumentado significativamente nos últimos anos, ou seja, trata-se de um problema de saúde pública que está claramente fora do controlo à escala mundial. E atenção que esta doença não se manifesta apenas através da leitura elevada dos valores de pressão sanguínea, estamos a falar “só” do principal fator de risco para o grupo de doenças que mais mata em todo o mundo, as doenças cardiovasculares. Sabe-se que a hipertensão é a causa de cerca de metade dos enfartes e AVCs em todo o mundo, e se estes valores são insuficientes para se mudar alguma coisa, então pergunto-me o que é que será necessário para se dar à hipertensão arterial toda a importância que merece…
São muitos os grupos de alimentos, para além do sal, que podem ajudar a diminuir ou aumentar o risco de se desenvolver hipertensão arterial (mais informações aqui e aqui). Atualmente alguns dos grupos alimentares melhor caracterizados a este nível são os cereais integrais, os hidratos de carbono refinados, os hortícolas, as frutas, os frutos oleaginosos, os ovos, os laticínios, a carne vermelha, a carne processada e os refrigerantes. Infelizmente o nosso conhecimento sobre a relação entre a alimentação e a hipertensão é ainda escasso, principalmente ao nível das quantidades que se pode (ou não) ingerir de determinados alimentos.
Recentemente foi publicado um estudo muito interessante que tentou avaliar exatamente esta questão. Esse trabalho chegou a algumas informações que me parecem importantes. Foi observado que um consumo de pelo menos 30g/dia de cereais integrais, 100g/dia fruta, 28g/dia de frutos oleaginosos e 200g/dia de laticínios, têm um efeito protetor em relação à hipertensão. Por outro lado, um consumo de pelo menos 100g/dia de carne vermelha (1 bife tem normalmente mais do que esta quantidade!!!), 50g/dia de carne processada (2 fatias de fiambre ou presunto têm mais do que esta quantidade!!!) e 250mL/dia de refrigerantes (1 lata tem mais do que esta quantidade!!!), aumentou significativamente o risco de desenvolvimento da doença.
Ou seja, para se lidar com a hipertensão, não basta apenas saber o que comer. Tão importante como isso é saber quanto comer, pois só assim será possível ter recomendações mais objetivas e, por isso, realmente eficazes na prevenção e controlo da hipertensão arterial. Face à dimensão deste problema parece-me que já há muito que estamos numa fase onde é claramente preciso agir, tentar mudar alguma coisa, pois é o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos e netos que tem a ganhar com isso. O maior problema da hipertensão é que é uma doença muito comum, ou seja, já é muito “normal” uma pessoa a partir de uma determinada idade ter hipertensão. Mas olhe que o facto de alguma coisa ser muito frequente não a torna necessariamente “normal”. Não me parece de todo “normal” que alguém encare com “normalidade” uma doença que, com uma probabilidade elevada, lhe pode tirar a vida ou deixar sequelas muito graves. Se sabe que o fogo queima, e por isso não se atira para dentro de uma fogueira, porque é que sabendo que a sua alimentação pode estar a matá-lo lentamente, não muda alguns aspetos da sua alimentação?

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