Penso que ninguém tem dúvidas que a obesidade é um problema global de saúde pública. E se por um lado esta doença afeta a aparência e a auto-estima das pessoas, com diversas consequências para a pessoa que sofre da mesma, os problemas estão longe de se resumir apenas a esse aspeto. Na realidade, a obesidade é um fator de risco para inúmeros problemas de saúde, desde a diabetes tipo 2, passando pela hipertensão arterial, até mesmo vários cancros. E estes são apenas alguns exemplos, infelizmente há muito mais… As estimativas mais recentes apontam para que cerca de 13% da população mundial tenha obesidade, ou seja, cerca de 1 em cada 8 pessoas! E estou a falar apenas em obesidade, que é classicamente definida como correspondendo a um IMC (índice de massa corporal) superior a 30 kg/m2. Se a estas juntarmos a que têm excesso de peso mas que não são classificadas como obesas, então este valor dispara. Ou seja, é um problema real, que é reconhecido como tal mas que está longe de estar controlado!
A forma de resolver a obesidade baseia-se sempre no tradicional balanço entre as calorias que são ingeridas e as que são gastas. Ninguém engorda se não comer mais do que está a gastar, isso é certo. Mas este balanço está longe de ser facilmente alterado em muitos casos, pois há inúmeros fatores que podem contribuir para que o nosso corpo gaste menos calorias, tornando difícil a perda de peso, tais como, por exemplo, a genética, alguns medicamentos, o estado emocional, entre tantos outros. Se por um lado todos sabemos como controlar a quantidade de calorias que ingerimos (apesar de, em muitos casos, isto ser uma tarefa complicada), mais difícil é conseguirmos alterar o que gastamos, pois neste caso normalmente apenas se considera a atividade física. Mas será que não há mais nada que possa ajudar a gastar mais calorias, além do exercício físico (que na minha opinião é fundamental para quem quer perder peso!!!)? Provavelmente sim…
No últimos anos tem sido investigado o potencial que alguns componentes da nossa alimentação podem ter na promoção do gasto de energia. Um dos casos melhor estudado são os polifenóis. Estas substâncias estão presentes em vários alimentos, tais como o chá verde, açafrão, chocolate preto, vinho, bagas, soja, frutos oleaginosos, cebola, entre muitos outros. São muitos os estudos que apontam para potenciais benefícios associados ao seu consumo, quer ao nível do gasto de energia total, gasto de gordura e diminuição da resistência à insulina. Ou seja, parecem contribuir para diminuir o risco de obesidade e de algumas consequências a ela associadas. Além disso, os polifenóis funcionam também como agentes anti-inflamatórios e antioxidantes, e, por isso, são potencialmente benéficos na prevenção do aparecimento de doenças crónicas, tais a aterosclerose e alguns tipos de cancro, por exemplo.
Mas nem tudo são boas notícias, pois há ainda muita controvérsia sobre este assunto. Em primeiro lugar, os estudos efetuados baseiam-se principalmente em experiências com animais, o que significa que no ser humano os efeitos não têm que ser necessariamente iguais. Além disso, o tempo de consumo dos polifenóis e, acima de tudo, a quantidade de polifenóis que devem ser consumidos ainda não estão estabelecidos. E este último aspeto parece-me claramente importante por dois motivos. Em primeiro lugar, porque normalmente a quantidade de polifenóis nos alimentos é baixa, o que significa que podemos necessitar de comer quantidades enormes de um alimento para atingirmos o valor necessário. Por exemplo, se para termos o efeito pretendido precisarmos de comer 5kg por dia de um determinado alimento, essa situação não é viável. Em segundo lugar, e que normalmente origina alguns mal-entendidos, tem que ver com as fontes dos polifenóis, pois nalguns casos tratam-se de alimentos muito calóricos (chocolate ou vinho, por exemplo). Tantas vezes ouvimos dizer que o chocolate preto ou o vinho tinto fazem emagrecer, e essa ideia não está correta. O que está correto é dizer que esses alimentos contêm substâncias que podem ajudar a perder peso. Atenção que isto não é apenas um detalhe, trata-se de comunicar de forma correta para evitar sensacionalismos e as célebres “dietas da moda”. E acima de tudo, serve para informar melhor as pessoas que precisam de ajuda para perder peso!
Gostaria de terminar deixando bem claro que estas substâncias/alimentos não vão ser a “fórmula mágica” que tanta a gente procura, para poder perder peso sem diminuir o que come, e sem aumentar a atividade física, mas podem ser importantes aliados nessa tarefa. Ou seja, para se perder peso é necessário, acima de tudo, mudar o estilo de vida e os hábitos alimentares. O consumo de polifenóis é apenas mais uma ferramenta que poderá ser valorizada para conseguir atingir o objetivo de perder aqueles quilinhos que estão a mais…