Nutrição geral

Sistema Nacional de Saúde saturado: a culpa não é (SÓ) do coronavírus!

Desde março que todos, pelos piores motivos, estamos a viver História todos os dias! Parece que de repente entramos dentro de um filme e ficamos com as nossas vidas “normais” em suspenso. Confesso que sempre que saio à rua me sinto como se estivesse num daqueles filmes do Will Smith sobre o apocalipse… Ir ao supermercado e não ver as caras das pessoas, haver controlo na entrada de qualquer estabelecimento, não poder estar livremente com familiares e amigos, tal como fazíamos há uns meses, dar aulas sem conhecer a cara dos meus alunos, … A vida era tão simples de se viver e nós nem nos apercebíamos disso!


Como consequência desta pandemia, eventualmente estaremos a viver o período mais negro e mais desafiante do nosso sistema de saúde. Neste momento há já vários hospitais perto da ruptura, com uma lotação de camas de internamento e de cuidados intensivos a rondar os 100%. E infelizmente se os números não começarem a baixar rapidamente, em breve os profissionais de saúde poderão ter que tomar a difícil de decisão de ter que escolher quem serão as pessoas que terão acesso a um tratamento adequado, e quais os que, por falta de recursos, não terão essa sorte.

 

Os hospitais públicos estão neste momento a ficar sem capacidade de resposta a todos os doentes que recebem diariamente.

 


É importante perceber que independentemente de as decisões poderem ter sido tomadas da forma que foram, ou de outra forma qualquer, nenhum país estaria preparado para enfrentar uma pandemia. E o aproximar do ponto de ruptura deve servir para se refletir e repensar o sistema nacional de saúde, não propriamente na questão da luta contra a covid-19, mas na forma como se lida com a doença no nosso país (e em muitos outros países). Excetuando a covid-19, atualmente algumas das doenças que mais contribuem para o consumo de recursos nos nossos hospitais são as doenças cardiovasculares, a diabetes e o cancro. Estas doenças são maioritariamente comportamentais (em especial as primeiras duas), sendo que o excesso de peso/obesidade, a hipertensão arterial, o sedentarismo, uma má alimentação, os hábitos tabágicos e o consumo de bebidas alcoólicas se assumem como os principais fatores de risco para as mesmas. E é exatamente isto que tem que ser discutido. Será que nas últimas décadas houve um investimento relevante no sentido de diminuir os fatores de risco comportamentais e, consequentemente, melhorar os índices da saúde no nosso país? Será que os sucessivos decisores políticos que há décadas lidam com estas matérias têm valorizado este assunto da forma que ele merece? Será que se nós tivéssemos uma verdadeira política de saúde pública que atuasse de forma muito assertiva ao nível da prevenção e da modificação de hábitos e estilos de vida, não teríamos neste momento muito mais capacidade de resposta no sistema nacional de saúde?


Os tempos desafiantes que vivemos são também um período de oportunidade para melhorarmos. Talvez ainda não seja a altura de iniciar o tipo de discussão que eu falo neste post, mas uma coisa é certa, se esta discussão não for feita, então estamos a desperdiçar uma oportunidade de ouro para mudarmos. Não nos podemos esquecer que o verdadeiro objetivo de qualquer sistema nacional de saúde é, ou deveria ser, promover a saúde, e não tratar ou curar, e para isso tem que existir muito mais investimento na prevenção e na modificação dos fatores de risco…

 

É fundamental haver muito mais investimento na prevenção das doenças, para aliviar o Sistema Nacional de Saúde.

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