Nutrição geral

Haverá alguma relação entre a alimentação e o risco de trombose?

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos países desenvolvidos (estima-se que 33% das mortes mundiais se devem a doenças cardiovasculares). Além da elevada mortalidade, esta classe de doenças também pode ter um impacto enorme na vida de quem sobrevive às mesmas, devido às sequelas que podem deixar. São muitos os fatores que contribuem para o aparecimento de doenças cardiovasculares, sendo um deles a formação desadequada de coágulos sanguíneos (trombose). Como é lógico, a capacidade de produzir coágulos sanguíneos é algo muito importante para a nossa sobrevivência, pois sem ela qualquer hemorragia, por mais pequena que fosse, poderia levar à morte de qualquer um de nós. Ou seja, o problema não está na formação de coágulos sanguíneos, mas sim na sua formação quando não é suposto.


Ao contrário do que acontece em muitas outras situações clínicas, as doenças cardiovasculares estão fortemente relacionadas com o estilo de vida, sendo a alimentação um dos principais fatores envolvidos. Neste contexto, normalmente relaciona-se o aparecimento das mesmas com um consumo excessivo de colesterol, de sal ou de açúcares, ou então um consumo baixo de antioxidantes. E se por um lado não tenho dúvida que qualquer um desses fatores é muito importante, também sei que há outros aspetos da alimentação que devem ser valorizados, no sentido de prevenir o aparecimento de doenças cardiovasculares. Por exemplo, uma vez que grande parte das doenças cardiovasculares está relacionada com a formação desadequada de coágulos sanguíneos, será de esperar que a alimentação possa, de alguma forma, contribuir para diminuir a formação dos mesmos.

 

A formação desadequada de coágulos sanguíneos (trombose) é um dos eventos responsáveis pelo aparecimento de doenças cardiovasculares.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista científica Advances in Nutrition, que procurou perceber se há na literatura dados suficientes sobre alimentos que de alguma forma podem contribuir para diminuir o risco de trombose. Foram analisados 4 alimentos diferentes, nomeadamente a cebola, alho, tomate e beterraba. Apesar de existirem estudos que revelam que estes alimentos pode de alguma forma diminuir a formação de coágulos sanguíneos, pois regulam o funcionamento das plaquetas (estruturas celulares responsáveis pela coagulação sanguínea), foram destacadas algumas ideias que me parecem importantes. Por exemplo, o método de confeção parece influenciar de forma significativa o potencial anti-trombótico dos alimentos. Também a quantidade consumida parece ser um fator importante, uma vez que alguns dos compostos bioativos que podem ter um efeito anti-trombótico estão presentes, muitas vezes, em quantidades muito baixas.


De uma maneira geral, quando a probabilidade de ocorrência de uma trombose é elevada, o paciente é aconselhado a consumir medicamentos com efeito anti-coagulante (warfarina ou aspirina, por exemplo). No entanto, é de esperar que alguns alimentos possam também ter algum potencial a esse nível. Claro que este tipo de efeitos depende de muitos fatores, alguns dos quais não se consegue controlar completamente. A forma como os alimentos são confecionados, bem como a forma como são combinados, e a quantidade que é consumida dos mesmos são fatores que me parecem críticos para se poder tirar partido de qualquer potencial terapêutico dos alimentos. E esta complexidade de fatores envolvidos é que torna a nossa alimentação fascinante, pois não é nada fácil (tenho até dúvidas que seja humanamente possível!) ter em consideração todas estas variáveis… Para terminar, e para que fique claro não pretendo com este post dizer que o consumo de determinados alimentos substitui o consumo de medicamentos anti-coagulantes, pois isso estaria completamente errado, mas sim que pode prevenir, de alguma forma, a necessidade de consumo dos mesmos.

 

Alimentos como a cebola, alho, tomate e beterraba podem contribuir para diminuir o risco de trombose, mas não substituem a necessidade de medicação!

 

Referência do artigo: Adv Nutr 2019;10:280–290

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