Nutrimentos

Carência e excesso de vitamina C: o que pode acontecer

A vitamina C desempenha várias funções muito importantes no nosso organismo (mais informações sobre a vitamina C neste post). Como tal, a manutenção de níveis adequados desta vitamina deve ser uma preocupação constante. A melhor forma de avaliar esses níveis é através da quantificação direta da vitamina C no sangue, ainda que a sua quantificação em células como os glóbulos brancos possa, na realidade, fornecer uma informação mais rigorosa sobre a quantidade de vitamina C existente nos tecidos. Contudo, este tipo de análise não é tão fácil de realizar e interpretar.


Tal como acontece para a maior parte dos nutrimentos, disponibilidade de vitamina C no sangue não depende apenas da quantidade ingerida, mas também da capacidade de absorção do organismo. Para ter uma ideia, em casos de ingestão média, cerca de 70-90% da vitamina C ingerida é absorvida. No entanto, se houver um consumo elevado desta vitamina (acima de 1g/dia), apenas 50% é absorvida. Ou seja, tal como já referi várias vezes em posts anteriores, o consumo elevado de nutrientes não significa que o nosso corpo vai conseguir tirar partido dos mesmos.

 

A quantidade de vitamina C que existe no sangue depende da quantidade ingerida e da capacidade de absorção intestinal dessa vitamina.

 


Quando existe carência de vitamina C ocorre uma condição chamada escorbuto. Uma vez que esta vitamina é encontrada principalmente em frutas e hortícolas frescos, o escorbuto tornou-se particularmente frequente nos marinheiros na altura dos Descobrimentos, pois como as travessias marítimas eram longas, não havia grande disponibilidade de alimentos frescos. Consequentemente, os casos de escorbuto eram bastante frequentes. Em meados do século 18, um cirurgião da marinha Britânica determinou que o consumo de frutas ou sumos de fruta levavam à cura da doença. Tradicionalmente os sintomas do escorbuto começam a manifestar-se em menos de um mês de carência de vitamina C, e incluem, numa fase inicial mal-estar, fadiga e inflamação das gengivas. À medida que a doença de vai desenvolvendo, começam a surgir pequenas hemorragias (petéquias), equimoses, dores articulares, problemas na cicatrização, sangramento e inchaço nas gengivas e perda de dentes. Esta condição é geralmente progressiva e se não for revertida a tempo pode ser fatal.


Apesar de o escorbuto ser extremamente raro nos países desenvolvidos, infelizmente é ainda uma realidade em vários países nos quais a disponibilidade de alimentos é muito limitada. Há ainda alguns grupos populacionais que possuem um risco mais elevado de apresentar carência de vitamina C. Um desses grupos são os fumadores, pois o fumo do tabaco causa, de uma maneira geral, uma diminuição dos níveis de defesas antioxidantes, nas quais se inclui a vitamina C. Como consequência, os fumadores devem ter um cuidado especial de forma a consumir doses adequadas desta vitamina. Os alcoólicos são também outro grupo de risco, não apenas porque tendencialmente têm uma alimentação menos cuidada, mas também porque o consumo excessivo de álcool parece estar associado a um aumento da excreção de vitamina C. Também os bebés que não são amamentados se encontram num maior risco de ter carências desta vitamina, principalmente até aos 6 meses, uma vez que a vitamina C é sensível ao calor, e a preparação do leite envolve a utilização de temperaturas elevadas. Há ainda a destacar as pessoas com uma alimentação pouco variada, principalmente em relação às frutas e hortícolas, que devido a essa situação correm o risco de consumir poucos alimentos ricos em vitamina C. Para terminar esta lista, há ainda que considerar as pessoas que sofrem de doenças intestinais que causam má-absorção dos nutrientes, bem como pessoas com insuficiência renal crónica.


Quando a vitamina C está em excesso, algo que acontece muito raramente, normalmente as pessoas apresentam diarreias, náuseas e cãibras (principalmente na região abdominal). Também é preciso ter em atenção que a vitamina C aumenta a absorção intestinal de ferro (mais informações sobre esse assunto neste post), pelo que o consumo de alimentos ricos em vitamina C deve ser corretamente avaliado em pessoas que apresentam níveis elevados deste mineral (uma doença chamada hemocromatose). Para terminar, gostaria ainda de destacar que pessoas com risco levado de terem cálculos renais (conhecidos vulgarmente como “pedras nos rins”) devem evitar consumir doses elevadas de vitamina C, uma vez que esta pode acentuar o problema.

 

Apesar da vitamina C ser um nutrimento muito importante, a quantidade ingerida deve ser adequada, pois se estiver em defeito ou em excesso poderão surgir consequências negativas para o organismo.

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