Nutrição geral

Intervenções nutricionais em casos de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção

A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma doença que tem vindo a ser intensamente estudada (mais informações sobre a PHDA neste post). Consequentemente, têm vindo a ser desenvolvidas diferentes abordagens no sentido não só de diminuir o risco de aparecimento da doença, mas também de minimizar as suas consequências. Apesar de ainda não se conhecer os detalhes que relacionam a alimentação com a PHDA, têm vindo a ser obtidos alguns resultados bastante promissores com várias estratégias de intervenção nutricional, sendo que neste momento há 3 que têm merecido mais atenção por parte da comunidade científica:


Educação alimentar – Há alguns estudos que levantam a hipótese de haver alguma relação entre o consumo de açúcar e de alguns adoçantes, bem como de gordura saturada, com um comportamento mais desequilibrado em pessoas com PHDA. Apesar de serem escassos e, por isso, não permitirem conclusões muito robustas, esses trabalhos sugerem que a substituição de alimentos doces por opções alimentares mais saudáveis parece atenuar as manifestações da doença de forma a promover um maior bem-estar dos pacientes, com vantagens óbvias ao nível do seu comportamento bem como da sua capacidade de concentração e de trabalho. Claro que as substituições alimentares que eu referi implicam um maior consumo de alguns nutrimentos, que pode também estar relacionado com o próximo tipo de intervenção nutricional…

 

São vários os estudos que sugerem que a adoção de uma alimentaçõa mais saudável pode ser importante ao nível da prevenção/minimização das manifestações da PHDA.

 


Suplementação – Esta é, possivelmente, a intervenção nutricional mais estudada e implementada, por diversos fatores. Em primeiro lugar, porque neste caso em concreto é possível estudar variáveis isoladamente, ou seja, pode-se perceber se o nutrimento X pode ajudar a resolver ou minimizar o problema. Em segundo lugar, é um tipo de intervenção bem mais simples de implementar do que uma educação alimentar, pois esta estratégia passa por consumir um suplemento de forma rotineira, mantendo a alimentação original. Recentemente escrevi um post sobre possíveis carências nutricionais relacionadas com a PHDA (pode ler esse post aqui), e por isso os suplementos mais estudados a este nível são os suplementos desses nutrimentos, nomeadamente ferro, zinco, magnésio, vitamina D e gordura ómega-3. Em nenhum dos casos existe evidência científica robusta que comprove que os suplementos possam ter algum efeito benéfico em pacientes com PHDA, pois se por um lado existem estudos com resultados promissores, por outro também há estudos que revelam ausência de benefícios. Apesar disso, de todas as suplementações em estudo, a de vitamina D e a de gordura ómega-3 são aquelas que têm revelado resultados mais interessantes. Contudo, são ainda necessários mais e melhores estudos sobre este assunto… Devido a isso as recomendações atuais sugerem que apenas se deve fazer uma suplementação se existirem carências nutricionais identificadas.


Dietas de eliminação – Esta terceira estratégia é possivelmente a mais “polémica”, mas também talvez a que reúne mais simpatizantes. A ideia de que há algumas substâncias que podem provocar a PHDA surgiu nos anos 70, na altura relacionada com alguns corantes alimentares. Desde aí tem vindo a ser proposto que uma dieta sem corantes alimentares pode ajudar a minimizar os efeitos da doença, ainda que os estudos científicos não sejam claros sobre os seus reais benefícios. Claro que este tipo de dietas de eliminação foi sofrendo upgrades (ou serão downgrades???), e de repente os suspeitos do costume começaram a surgir. Estou a falar, como é óbvio, dos laticínios, do glúten, da soja, dos ovos, dos amendoins e do marisco. Os resultados são mais uma vez contraditórios. Em relação às dietas de eliminação, a minha opinião é clara… Eliminar os corantes alimentares da alimentação não me parece algo prejudicial, e é algo que se calhar todos deveríamos tentar fazer. Também se existir algum tipo de intolerância ou alergia a algum alimento em específico, não tenho grandes dúvidas que a não ingestão dos mesmos será claramente vantajosa (não só ao nível da PHDA, mas a outros níveis também). Mas retirar alimentos que tradicionalmente podem e devem ser incluídos num padrão alimentar saudável… não obrigado! A não ser que fique provado que algum destes alimentos pode de facto ser prejudicial, e nesse caso não terei problema nenhum em mudar a minha opinião.

 

A suplementação com alguns nutrimentos específicos, ou a abolição do consumo de determinados alimentos são estratégias que têm vindo a ser implementadas no sentido de minimizar as consequências da PHDA.

 


Para terminar, infelizmente a informação que existe sobre a relação entre a PHDA e a alimentação é ainda escassa, o que nos impede de ter recomendações mais objetivas e generalizáveis. Confesso que nem sequer sei sei se alguma vez as teremos, pois como se trata de uma doença complexa e multifatorial, o que resulta num paciente pode não resultar noutro. Também me parece importante referir que os três tipos de intervenção nutricional mencionados neste post podem ser combinados, no sentido de otimizar a resposta. Este é um assunto sobre o qual todos ainda temos que aprender muito, de forma a podermos atuar no sentido não só de minimizar as consequências da doença mas acima de tudo no sentido de a prevenir.

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