Consumo de adoçante
Nutrição geral

O consumo de adoçantes e o risco de diabetes

Enquanto nutricionista, o consumo de adoçantes é algo que me deixa desconfortável… Por um lado acredito que devido ao seu teor calórico nulo, ou quase nulo, podem ser um importante aliado para quem quer perder peso ou manter um peso baixo mas não consegue abdicar do consumo de algo doce, ou não consegue beber café ou chá sem sentir o sabor doce. Nestes casos a utilização de adoçante em vez de açúcar pode ser uma estratégia interessante. Por outro lado, tenho sempre algumas dúvidas sobre os reais efeitos do consumo de adoçante a longo prazo, pois como se tratam de substâncias relativamente recentes (algumas são de facto muito recentes!), ainda não há estudos científicos que comprovem que de facto não provocam nenhum tipo de consequência para alguém que os consuma regularmente durante 40, 50 ou 60 anos… Obviamente que com esta minha dúvida não pretendo lançar nenhum alarmismo sobre o consumo de adoçantes, apenas me limito a constatar um facto, ou seja, o conhecimento atual é ainda demasiado limitado para podermos dizer que o consumo de adoçantes é perigoso, ou então para dizer que não é perigoso…


Com a procura crescente de alimentos sem açúcar, provavelmente nunca tanto como agora a indústria dos adoçantes esteve tão bem. A prova disso é que atualmente existem no mercado muitos adoçantes diferentes, e não tenho dúvidas que irão continuar a aparecer muitos outros. Há alguns estudos que sugerem que o consumo de adoçantes pode afetar diferentes características do nosso metabolismo, e na minha opinião parece-me óbvio que assim seja. Pode ser um efeito direto no funcionamento de algumas das nossas células, pode ser um efeito indireto ao nível da microbiota intestinal (mais informações sobre a microbiota intestinal neste post), ou pode ser por qualquer outro tipo de mecanismo, mas acho lógico que haja alterações induzidas pelos adoçantes (tal como também há alterações induzidas pelo consumo de açúcar!). Mas como existem muitos adoçantes diferentes, mais importante do que tentar definir efeitos globais que todos os adoçantes provocam, é tentar perceber quais as consequências associadas ao consumo de cada um deles. Um dos adoçantes que tem vindo a ser utilizado de forma significativa pela indústria alimentar é a sucralose. Trata-se de um adoçante sintético com um potencial adoçante cerca de 600x superior ao do açúcar de culinária.

 

O consumo de adoçantes tem vindo a aumentar de forma significativa, sendo que atualmente ainda não se conhece qual é o verdadeiro impacto a longo prazo associado ao consumo dos mesmos.

 


Recentemente foi divulgado um estudo na revista American Journal of Clinical Nutrition, no qual se investigou se o consumo de sucralose afetava o metabolismo dos açúcares. Foi observado que um consumo moderado desse adoçante, correspondente a 15% do consumo máximo recomendado do mesmo, durante 14 dias, diminuiu a sensibilidade à insulina em adultos saudáveis.


Em primeiro lugar importa esclarecer o que é que significa este conceito de “sensibilidade à insulina”. A insulina é uma hormona que é produzida quando existe muito açúcar no sangue, e tem como principal função promover uma diminuição desses níveis. Portanto, se houver falhas na atuação da insulina, os níveis de açúcar no sangue têm tendência a ser mais elevados (hiperglicemia). A resistência à atuação da insulina é o evento que está na base do aparecimento de diabetes tipo 2 (mais informações sobre a diabetes neste post). Portanto, dito de uma forma simples, o consumo de sucralose parece promover um aumento do risco de aparecimento dessa doença. Quem me conhece sabe que não sou intransigente em relação aos adoçantes, mas tento ser cauteloso em relação aos mesmos. Não se pode aceitar que o consumo de algo é seguro a curto, médio, ou longo prazo, se não existirem estudos científicos suficientes que comprovem isso mesmo. Não tenho grandes dúvidas que daqui a alguns anos possivelmente alguns dos adoçantes atuais vão deixar de ser comercializados, porque se vai descobrir que afinal não são assim tão inofensivos. Ainda por cima porque atualmente há algo que me parece particularmente importante referir neste contexto: o consumo de produtos alimentares com adoçantes é elevadíssimo! Por isso não basta pensar no adoçante que se coloca no café ou no chá, a quantidade de adoçantes consumida diariamente é, para muitas pessoas, realmente significativa (basta pensar em todos os produtos light que existem, nos quais o açúcar foi substituído por algum tipo de adoçante). Consoante o objetivo alimentar de cada um, parece-me que há lugar para alguns adoçantes no dia-a-dia alimentar, mas esta utilização deve ser avaliada no sentido não só de minimizar o seu consumo, mas também de variar os adoçantes consumidos. Mas também não tenho dúvida nenhuma que melhor do que passar a usar adoçante em vez de açúcar é mudar hábitos alimentares, adotando uma alimentação saudável e equilibrada!

 

O consumo de adoçantes pode ter algumas consequências importantes para o organismo. Deve procurar mudar os hábitos alimentares, de forma a que não seja preciso consumir regularmente grandes quantidades dos mesmos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *